Bambu, a planta maravilhosa Cap#1: O que floresce morre.

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Mais de 250 mil pessoas visitam anualmente o Parque Prafrance, no Sul da França. O que as traz aqui são as gramíneas que nenhum outro lugar da Europa reúne com tamanha abundância e variedade.

Parque de bambus Prafrance
Parque de bambus Prafrance

Este bosque de bambus, com mais de 100 espécies, foi criado como parque há 120 anos. Os visitantes ficam sabendo, entre outras coisas, que há 60 milhões de anos, também na Europa, o bambu brotava naturalmente.

Aqui em Prafrance só foram plantadas as espécies capazes de suportar temperaturas inferiores à 0° centígrados. A espécie Phyllostachys, originária da China, atinge aqui a considerável altura de 25 metros.

Phyllostachys
Phyllostachys

O bambu é encontrado nas zonas tropicais e subtropicais, mas algumas de suas cerca de 700 espécies florescem também em regiões mais frias, como o Japão e os Andes.

O bambu tem diversas particularidades biológicas. O chamado “bambu tartaruga”, por exemplo, cresce com colmos, os caules das gramíneas, que se formam normalmente a partir da mesma raiz.   

Bambu Casco de Tartaruga

As cerca de 50 espécies de bambus negros de Laca em geral só se distinguem pelas folhas. As folhas dos bambus caem anualmente, mas umas 4 semanas depois os ramos voltam a ser frondosos. Só quando o colmo, ou caule, atinge sua verdadeira altura os ramos se formam a partir da extremidade superior. Em algumas espécies tais ramificações se estendem até o solo.

Bambu negro
Bambu Negro

No bambuzal de Prafrance, o bambu é colhido regularmente para ser, por exemplo, transportado como ração para o Jardim Zoológico de Berlim Ocidental. O bambu novo é o mais procurado para isso, devido ao seu elevado teor de proteínas. A partir do segundo ano os colmos já estarão plenamente amadurecidos e amadeirados. O chamado Urso o Bambu, mais conhecido como Grande Panda, alimenta-se exclusivamente desta planta. Na China, seu país de origem, a espécie está ameaçada de desaparecimento. Isso porque a colonização nas áreas em que vivem os pandas acarreta crescente destruição do bambuzais.

Em regiões montanhosas e de muita chuva, os densos bambuzais constituem uma defesa natural contra a erosão. A rede de raízes, que se estende com rapidez, armazena água das chuvas e impede a erosão do solo. Os caules e a ramagem funcionam como para-brisas.

“Mar de bambu” Parque Nacional de Shunan – China

Embora o homem já venha utilizando o bambu há séculos, a planta nem sempre está a sua disposição. Ela só floresce uma vez e murcha em seguida. Apesar disso, todas as plantas de uma determinada espécie de bambu florescem simultaneamente em todos os continentes, e morrem independentemente de sua idade. Conforme a espécie, isso ocorre a cada 15, 40 ou até 120 anos. Os fatores que determinam o florescimento ainda são pouco pesquisados pela ciência.

O período de florescimento, fecundação e morte pode se estender por vários anos. Ele é influenciado por fatores como a temperatura, a umidade do ar e a altitude do local.

Na Tailândia, a espécie Gicantocloa Rascartiana já está florescendo e morrendo há 3 anos. Enquanto as plantas mais antigas vão morrendo, brotam germes das sementes. Somente os que se desenvolverem em um solo separado da planta matriz irão sobreviver.

Gicantocloa Rascartiana

Os bambus se dividem em dois grupos em função das suas diferentes raízes. Os bambus Leptomórficos que formam estólios crescem em geral nas zonas climáticas subtropicais e temperadas, como no Japão e na China. Suas raízes podem chegar a mais de 15 metros de comprimento total num metro quadrado. As raízes armazenam os elementos nutritivos que as folhas produzem. Nos curtos períodos de crescimento, os colmos, ou caules, consomem muita energia. Os brotos, os colmos novos de bambu, se desenvolvem nas raízes durante vários anos

Bambu Leptomórfico

O seu tenro tecido é protegido por colmos resistentes, se estes são retirados cessa o crescimento da respectiva secção de colmo. Desde o início de seu crescimento, o colmo já tem sua estrutura básica plenamente formada. Com base nos nós que dividem o caule pode-se calcular seu futuro comprimento.

Colmo

As intersecções dos entrenós medem, em geral, de 10 a 35 centímetros, mas em algumas espécies chegam a 5 metros. A velocidade de crescimento dos bambus é um autêntico milagre da natureza. O Phyllostachys, por exemplo, pode crescer mais de 1 metro em 24 horas.  O crescimentos médio por dia é de 10 a 30 centímetros.

O bambu é de todas as plantas a que cresce com maior rapidez, atingindo sua altura máxima em 2 ou 3 meses. Somente depois que caem os últimos receptáculos de crescem ramos e folhas no novo caule.

O outro grupo de bambus é o dos paquimórficos, que têm raízes bem compactas e cresce principalmente em regiões muito quentes e tropicais, como por exemplo, no subcontinente Indiano. Cada raiz de colmo cresce de outra, de modo que os colmos constituem emaranhados quase impenetráveis.

Bambu Paquimórfico

Em Bangladesh e em outras áreas atingidas pelas chuvas tropicais de monção cresce a família de bambus dos dendrocalamos. A espécie Dendrocalamus giganteus, conhecida no Brasil como “bambu-balde” é com seus 40 metros uma das gramíneas gigantes. Os colmos atingem diâmetros de até 35 centímetros. Após rápido período de crescimento de cerca de 2 meses as proporções do colmo permanecem inalteradas, seu tempo de vida é de 10 a 15 anos.

Dendrocalamus giganteus

Folhas e caules secundários são muito resistentes, a dura superfície garante boa proteção contra fungos e insetos. No máximo em 3 anos o colmo de quase todos os bambus ocos está endurecido e assemelhado em sua estrutura anatômica à madeira.

No microscópio, um corte transversal torna visível a estrutura interna dos calamos, as fendas escuras no interior do tecido da célula viva são os vasos do característico feixe condutor. Os vasos do feixe condutor acumulam e conduzem líquidos: água para as folhas e substâncias nutritivas, como açúcar, para a raiz.

Corte transversal

No corte longitudinal, nota-se também, numa ampliação maior, ao lado dos vasos, o tecido amadeirado do feixe condutor. É ele que torna os calamos tão extraordinariamente flexíveis. 

Corte longitudinal

As árvores transportam substancias nutritivas através de tecidos que se regeneram continuamente. Os bambus têm de efetuar este transporte exclusivamente através dos feixes condutores, que não se podem renovar.

A estrutura do bambu faz dele uma planta útil e procurada onde quer que cresça. Em Uganda, por exemplo, onde insetos e outros animais apreciam como alimento o tecido celular macio, o homem sabe utilizar de muitas maneiras o corpo oco e elástico com a dura superfície externa.

Uso sustentável do bambu em Uganda

Também em Equia Forest, à 2400 metros de altura a destruição descontrolada acarreta danos ecológicos. A mata já perdeu 1/3 da sua superfície devido as derrubadas indiscriminadas, embora constitua proteção natural contra a erosão. Como este bambuzal não é sistematicamente utilizado, colmos de gerações diversas se encontram próximos uns dos outros. Nos colmos apodrecidos a típica estrutura fibrosa pode ser identificada sem microscópio. As fibras duras se conservam mais.

Colmo apodrecido

Não são somente animais que vivem de bambus, há um fungo endêmico que só se desenvolve nos bambuzais da África oriental, à mais de 2200 metros de altura. Como muitos parasitos, ele ataca sobretudo os colmos novos, ainda não endurecidos. Os fungos, que servirão por sua vez de alimento aos insetos, nutrem-se do rico tecido celular que constitui a parte interior dos colmos. Insetos encontram ali um bom refúgio contra possíveis inimigos. O estrago que o fungo produz na superfície do bambu é limitado, pois somente seus filamentos avançam até o interior do colmos

No Instituto de Pesquisa Florestal de Bangladesh estudam-se novos métodos de reprodução dos bambus, já que quase nunca se dispõe de sementes devido aos raros florescimentos da planta. Um método que está trazendo bons resultados consiste em separar da planta matriz ramos que criem raízes em canteiros de cultivo. Quatro semanas depois os ramos, que crescem com rapidez, são outra vez partidos ou retirados. As pesquisas demonstram que os bambus, desde que o clima seja adequado, crescem praticamente em qualquer lugar e que podem adaptar-se ao teor nutritivo do solo.

Instituto de Pesquisa Florestal em Bangladesh

Não são apenas as peculiaridades biológicas, nem seu enigmas ainda não decifrados que fazem do bambu uma planta maravilhosa, na verdadeira acepção do termo. Isto decorre também das 1001 possibilidades de seu aproveitamento.