Permacultura Urbana

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Viver sustentável na cidade

Como é possível ter uma vida mais sustentável, com saúde e propósito nas cidades?

Nem tudo que você precisa necessariamente vai ser produzido dentro dos limites de seu quintal ou condomínio.

Antes de começar a escrever sobre as ideias na prática, é preciso contextualizar o que embasou esse pensamento e a escrita desse texto:

Os três princípios éticos da permacultura;

  • Cuidar da Terra
  • Cuidar das pessoas
  • partilha justa do excedente.

E também os doze princípios de design e a flor da permacultura, uma mandala formada por sete pétalas, cada pétala abarcando uma dimensão fundamental e indispensável para o viver ( Saiba mais em www.permacultureprinciples.com ).

Tomando essa flor como referência, vou aqui falar de possibilidades reais e realizáveis em cada uma destas pétalas, esperando dessa maneira colaborar com inspiração para você começar a criar um viver mais conectado enquanto indíviduo, em coletividade e ambientalmente. Então, vamos ao que interessa:

Posse da terra e Governo comunitário:

Estude e pratique novas formas de se organizar. Vivendo na cidade dificilmente você vai conseguir ter uma vida mais sustentável sem desenvolver projetos e ações coletivas ou em parcerias. Para isso você precisa conhecer formas mais saudáveis de organização coletiva, formas mais horizontais e circulares, menos verticalizadas e hierárquicas.

Pesquise sobre novas ferramentas para tomada de decisão coletiva, resolução pacífica de conflitos e comunicação não violenta.

Procure entender e praticar a cidadania ativa, participando de conselhos municipais, associações de moradores, criando pequenas organizações comunitárias e coletivas para apoiar a gestão pública urbana, fazendo sua parte como cidadão.

Cuidado com a Terra e manejo da natureza:

Estude, pratique a apoie a agroecologia urbana. È possível produzir alimentos em pequenos espaços, fazendo hortas nos quintais, hortas comunitárias em espaços públicos ociosos e terrenos baldios.

Procure informações sobre produtores e feiras agroecológicas em sua cidade, apoie essas iniciativas consumindo alimentos de melhor qualidade e livre de agrotóxicos.

Uma outra possibilidade de obter alimentos agroecológicos a preços justos é formar um CSA, que é um arranjo onde a Comunidade da Suporte ao Agricultor, ou seja forma-se um coletivo para o financiamento da produção agrícola de um pequeno produtor, dividindo com ele as responsabilidades e os benefícios da produção. Dessa maneira, gera-se a garantia de comida limpa e relações justas de trabalho e economia, além do desenvolvimento da agricultura ecológica e do pequeno produtor rural.

Pratique a Jardinagem de guerrilha, ocupe todo e qualquer pedaço de terra na cidade plantando flores, ervas aromáticas, plantas medicinais, conheça esse movimento em www.guerrillagardening.org.

Cuide de seu resíduo, faça compostagem doméstica e aplique em sua vida a regra dos 4 “R”, reduzir, reciclar, reutilizar e repensar.

Espaço Construído:

Existem muitas alternativas de elementos sustentáveis aplicados a arquitetura urbana. No entanto, tudo vai depender do tipo de espaço que você vive e qual a viabilidade real de interferência possível de fazer nesse ambiente. Aqui vamos falar de sugestões mais gerais, que podem ser aplicadas e vivenciadas por muitas pessoas.

Estude sobre a regeneração do espaço urbano através do uso e da ocupação humana. Muitos espaços passam a ser ressignificados somente pela ocupação humana com atividades saudáveis no mesmo.

Ecovilas urbanas são possíveis e já existem em muitos lugares no mundo. O antigo espaço de uma fábrica ou uma antiga instalação empresarial pode ser reconfigurada para abrigar espaços de trabalho, moradia, oficinas, hortas urbanas, biblioteca comunitária, etc.

Existem também casa coletivas, casas colaborativas, espaços de trabalho compartilhado, uma infinidade de possibilidades de uso coletivo de espaços viabilizando dessa maneira a realização de inúmero projetos sem a necessidade de aportes individuais de recursos muito pesados.

Ferramentas e tecnologias:

Um grande desafio nas cidades é a demanda crescente por fontes de energia. Dê preferência ao uso de pilhas e baterias recarregáveis para seus equipamentos eletrônicos. Existem pequenos carregadores solares de preço muito acessível para que você possa recarregar seus equipamentos.

Uma possibilidade bastante aplicável também é uso das bicimáquinas, bicicletas adaptadas para geração de energia e também para fazer funcionar um sem fim de máquinas utilitárias nas residências, como liquidificadores e batedeiras por exemplo. Se pensarmos que um número enorme de pessoas hoje paga para pedalar em bicicletas ergométricas em academia, como forma de exercício físico, essa mesma energia pode ser empregada para a realização das tarefas domésticas no dia a dia.

A bicicleta também deve ser cada vez mais utilizada e pensada como um veículo de transporte nas cidades, e se você não sente em segurança para isso, recomendo você pesquisar sobre os BIKE ANJOS, pessoas que auxiliam no treinamento de novos ciclistas nas cidades. Uma boa referência também é o site www.bicicletada.org que difunde o conceito de transporte ativo nas cidades.

Desidratador de alimentos e forno movido à energia( Calor) solar também são facilmente construídos e podem ser utilizados com eficiência nas cidades como forma de conservar alimentos e preparar alimentos sem necessidade de queima de combustível fóssil.

Compartilhar ferramentas e equipamentos também é uma forma de evitar desperdício e gerar acesso. Oficinas compartilhadas estimulam o conceito do faça você mesmo, e ajudam as pessoas a evitarem o descarte de objetos e equipamentos danificados.

Cultura e educação:

Criar espaços de compartilhamento e acesso ao conhecimento é fundamental. Organize quando possível encontros presenciais onde as pessoas possam trocar aprendizados e fazerem coisas juntas. Pode ser cosméticos e material de higiene pessoal e material de limpeza ecológicos, panificação artesanal integral e culinária natural. Práticas de marcenaria, mecânica de bicicletas, enfim um mote de possibilidades. Valorize, e aprenda ofícios. Eles podem te gerar algum rendimento e maior possibilidade de autonomia e autossuficiência.

Ateliês coletivos, bibliotecas comunitárias, mutirões, todo e qualquer espaço de aprendizado aberto e participativo é bem vindo.

Pensar no cuidado e na educação das crianças também é importante. Precisamos criar espaços emocionalmente seguros e humanamente viáveis para o desenvolvimento educacional infantil. Criar brinquedotecas, ludotecas, feirinhas de troca de brinquedos, redes de apoio a maternagem e ao cuidado infantil coletivo.

Saúde e bem estar:

Em muitas cidades existem, nos parques e praças, grupos abertos e comunitários de prática de yôga e tai chi chuan. Também meditação e outras praticas como rodas de terapia comunitária, círculo de mulheres, círculos de masculinidade curada entre outros. Participe, apoie e ajude a divulgar.

A medicina preventiva também é um caminho de sustentabilidade, cuidar da sua alimentação, praticar atividades físicas e estar em contato com a natureza vão te fazer muito bem.

Pesquise e adote práticas curativas complementares e tradicionais, como a fitoterapia, acupuntura, homeopatia, naturopatia entre tantas outras. A medicina tradicional chinesa também tem muito a nos ensinar.

Cuidar dos idosos, é garantir também nossa saúde e a saúde de nossa comunidade. Dedique parte do seu tempo para dar atenção e ajuda às pessoas mais velhas.

Conecte-se espiritualmente, espiritualidade não necessariamente tem a ver com religiosidade.

Organize encontros e celebrações dos ciclos da natureza e das estações do ano. Saiba em qual ciclo lunar está, observe o céu e perceba-se parte do todo.

Economia e finanças:

Estude novas formas e entendimentos de economia.

Economia não é só dinheiro, economia é antes de tudo fluxo. É possível nas cidades por em prática o conceito de economia circular, moedas sociais, economia solidária, feiras de troca, bancos de horas para troca de serviços e produtos, clubes de compras entre muitas outras possibilidades reais

Espero que estas ideias possam ter ajudado quem está nas cidades a começar a vislumbrar como a permacultura urbana vai muito além do seu muro. Como esta metodologia pode te ajudar a desenhar uma nova forma de viver. Uma vida mais conectada no nível pessoal, social e ambiental. Criando dessa maneira uma cultura permanente que passa por tudo aquilo que você faz pra si, em interação com os outros e o meio aonde habita. Transformando-se em agente ativo de seu viver e da sua felicidade e também da regeneração ecológica do planeta.