Uma perda para a agroecologia

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Nesta terça-feira 23/06, o Engenheiro agrônomo João Benko de 74 anos nos deixou. Ele foi criador da fazenda Jerivá e traçou sua história através da agroecologia, produzindo alimentos de qualidade sem utilizar agrotóxicos. Foram longos anos de experiências e vivências que proporcionaram João e sua esposa Divina a gerar alimentos e renda por meio do trabalho camponês.

O casal de mineiros pretendia dedicar suas vidas às experiências de vida comunitária, mas na época o Brasil passava por uma cruel ditadura militar e isso fez com que seus planos não pudessem ser colocados em prática tão facilmente. João e Divina à convite do Frei Mateus Rocha, iniciaram uma nova fase de suas vidas morando e convivendo com os camponeses em uma pequena propriedade perto de Abadiânia, em Goiás.

Ao longo dos anos João colocou em prática seus conhecimentos na tentativa de produzir e gerar renda necessária para a comunidade. No início abriram um quiosque na estrada entre Goiânia e Brasília, onde eram oferecidos alguns produtos agrícolas e folhagens. Na prática nem todo o conhecimento adquirido pelo agrônomo deu certo, por isso a necessidade de buscar novas alternativas foi primordial para aprimorar a vivência no campo.

Com as novas pesquisas e experimentações foi possível inaugurar o restaurante, e assim surgiram novos desafios. As características específicas do Cerrado unido às pesquisas e práticas de João provaram ser possível a produção agroecológica e de animais em uma fazenda relativamente grande sem o uso de produtos químicos.

O primeiro passo foi a recuperação do solo com apoio de cobertura vegetal, uso de minhocário e de adubo orgânico. Depois com o crescimento da produção, passou a utilizar os alimentos para a criação de frangos, galinhas, suínos e vacas leiteiras.  Com um rigoroso controle de qualidade dos alimentos oferecidos aos animais, foi possível gerar subprodutos do leite, carne de frango e de suínos livre de qualquer agrotóxico.

João apreciava os conhecimentos tradicionais, mas não ignorava a descoberta de novas tecnologias e novos conhecimentos. Foi através de sua intensa curiosidade e conhecimento tradicional que a planta nim começou a ser utilizada como defesa natural no campo agrícola e de cuidado dos animais. Sempre atento às novas tecnologias, começou a utilizar energia produzida através do sol para diminuir a emissão de gases de efeito estufa e diminuir custos. Esse tipo de pensamento o fez utilizar as inovações que eram aplicadas no Nordeste pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) para a captação da água das chuvas em cisternas. 

A Fazenda Jerivá é um exemplo de que é possível produzir em grande escala sem perder a pegada agroecológica. Técnicos da Embrapa fizeram uma avaliação minuciosa de sua fazenda, e viram que é uma grande referencia para formação teórica e prática.

É importante ressaltar que as pequenas propriedades camponesas são responsáveis pela produção da maior parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, porém apenas as grandes propriedades do agronegócio recebem os recursos de incentivo.  Na prática não existe nenhum tipo de apoio a essa forma de produção agroecológica, mesmo que essa prática seja amplamente reconhecida como garantia de saúde pública. O conhecimento em agroecologia cresce a cada momento através de pesquisas e práticas científicas, mas isso não impede que ela seja ignorada pelos políticos. Não há dúvidas que a produção química e envenenada do agronegócio é destrutiva dos biomas e da saúde das pessoas. Se a agroecologia fosse reconhecida politicamente como fonte de produção de alimentos saudáveis, com certeza teríamos estes alimentos com preços mais acessíveis. 

Fonte: https://outraspalavras.net/alemdamercadoria/perdemos-um-pioneiro-da-utopia-agroecologica/